Por que fazer 'piada' sobre bomba ou itens proibidos em aeroportos também é crime? Entenda
28/10/2025
(Foto: Reprodução) Por que fazer 'piada' sobre bomba ou itens proibidos em aeroportos também é crime? Entenda
- "Tem algum item proibido na sua bagagem?"
- "Só se for uma bomba..."
O diálogo, aparentemente inocente, levou uma passageira a ser detida pela Polícia Federal no Aeroporto Internacional de Brasília neste domingo (26).
A mulher, identificada como Karyny Virgino Silva, até explicou que era só uma brincadeira. Mas, não teve jeito: a PF descartou a presença de explosivos e, ainda, assim, prendeu Karyny em flagrante (veja detalhes abaixo).
Mulher é presa no Aeroporto de Brasília após falsa ameaça de bomba
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Dizer que está levando um explosivo ou fazer qualquer ameaça do tipo, mesmo como brincadeira, é crime – no Brasil e em boa parte dos países.
A legislação brasileira trata qualquer menção a explosivos em aeroportos como ameaça à segurança de voo.
Segundo especialistas, a fala é capaz de gerar pânico, mobilizar forças de segurança e interromper operações, ainda que, na prática, não haja risco real.
O que diz a lei ⚖️
De acordo com o artigo 261 do Código Penal Brasileiro, colocar em risco a segurança de transporte público, como aviões, trens ou navios, é crime, com pena de 2 a 5 anos de reclusão e multa.
“Art. 261 — Expor a perigo embarcação ou aeronave, própria ou alheia, ou praticar qualquer ato tendente a impedir ou dificultar a navegação marítima, fluvial ou aérea.”
Área de check-in do aeroporto, em imagem ilustrativa
Lucas Marreiros/g1
Na prática, isso significa que qualquer declaração que sugira ameaça de bomba é tratada como risco real, até que a polícia comprove o contrário.
O perito aeronáutico Daniel Calazans explica que, mesmo sem explosivo, a simples menção já obriga as autoridades a agir.
"Se ela declarou que tinha bomba a bordo, a polícia não vai levar isso em termos de piada, não tem como. Ela vai investigar como se fosse verdade e tomar as providências cabíveis", afirma o especialista.
✈ Durante o check-in, as companhias aéreas fazem perguntas padronizadas sobre itens proibidos nas malas. A lista de itens que não podem ser despachados inclui explosivos, mas também combustíveis, gases em geral e materiais radioativos, por exemplo.
O caso de Karynny não foi o primeiro a virar notícia. Veja exemplos:
Agosto de 2013: uma passageira em São Paulo foi impedida de embarcar na Qatar Airlines, depois que funcionários da companhia ouviram o pai dela fazer uma piada sobre ela "não ter sido considerada terrorista".
Agosto de 2019: um passageiro de 64 anos disse que estava transportando "inflamáveis" e, depois, afirmou que era "uma bomba". A ameaça era falsa, mas o homem foi retirado da aeronave em Recife e não conseguiu embarcar.
Outubro de 2023: um passageiro em Teresina (PI) "brincou" que levava uma bomba na bagagem ao ser perguntado sobre itens proibidos – a aeronave teve de ser esvaziada e o voo atrasou quatro horas.
Abril de 2024: os influenciadores Kel Ferretti e Igor Campioni foram retirados de um voo da Latam em Guarulhos (SP) após dizerem que iam soltar uma "bomba" no avião – em referência à ida de um deles ao banheiro.
Caso em Brasília
Karyny Virgino Silva ria embarcar em um voo para Confins (MG) pela Azul Linhas Aéreas, acompanhada de uma amiga – que também teve os pertences inspecionados, mas foi liberada.
Ela vai responder por atentado contra a segurança de transporte marítimo, fluvial ou aéreo.
A defesa de Karyny afirmou à Justiça que a mulher fez a afirmação como uma "piada infeliz".
"Se houve efetiva intenção (dolo específico) ou se se trata de mera brincadeira ou comentário aleatório, é questão a ser aferida em instrução, seja em sede de inquérito policial, seja em eventual ação penal", destaca trecho da audiência de custódia.
Na audiência de custódia, a juíza concedeu liberdade provisória sem fiança. Karyny deverá:
Comparecer a todos os atos do processo — audiências, etc.
Não mudar de endereço sem avisar o juiz;
Manter o endereço atualizado.
A defesa de Karyny Virgino Silva afirmou à Justiça Federal que ela fazia o procedimento de check-in e despacho de mala, antes de embarcar, quando foi questionada se havia algum item proibido na bagagem.
Em resposta, ela declarou: "Só se for uma bomba".
Com a afirmação, a Polícia Federal foi acionada e inspecionou a mala da mulher. Mesmo sem encontrar nenhum explosivo, os policiais prenderam a mulher em flagrante e levaram ela à Superintendência da PF em Brasília.
Vista aérea do Aeroporto de Brasília
Bento Viana/Inframerica
Quem é ela?
Karyny é servidora do Banco do Brasil e iria embarcar em um voo para Confins, em Minas Gerais, pela Azul. Ela estava acompanhada de uma amiga, que também teve seus pertences inspecionados pela PF, mas foi liberada.
Ao g1, a companhia aérea afirmou que "medidas como essas são necessárias para garantir a segurança de suas operações, valor primordial para a Azul".
Procurado, o Banco do Brasil não quis se manifestar sobre o caso.
Aeroporto de Brasília
Divulgação
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